BIA- Balão Intra-Aórtico Conceito, Indicações e Cuidados de enfermagem!

O Balão Intra-Aórtico é um dispositivo de assistência cardiocirculatória mecânica, temporário e de permanência curta, muito utilizado por pacientes em quadro de falência cardíaca e circulatória, esse mecanismo proporciona uma diminuição da pós-carga cardíaca e da pressão diastólica do ventrículo esquerdo, aumentando a perfusão coronariana devido ao aumento da pressão diastólica na aorta, resultando na melhora do débito cardíaco.

Conteúdo:

Mecanismo de ação do BIA:

Durante a insuflação há um aumento da pressão diastólica da aorta, da pressão da raiz da aorta, da perfusão coronária e consequentemente do suprimento de oxigênio.

Na desinsuflação ocorre a diminuição da pressão diastólica final aórtica, da impedância à ejeção, da pós-carga e da demanda de oxigênio.

A insuflação aumenta a pressão de perfusão da artéria coronária e o fluxo sanguíneo, enquanto o esvaziamento reduz a impedância à ejeção (pós-carga), o trabalho ventricular esquerdo (VE), diminuindo a demanda de oxigênio pelo miocárdio.

Com a melhora do fluxo sanguíneo e a redução do trabalho do VE, os resultados desejados são a perfusão aumentada das artérias coronárias e a pós-carga diminuída, com subsequente aumento do débito cardíaco.

Conhecendo os componentes do BIA:

Cateter Balão: É um cateter rígido que apresenta na extremidade um balão cilíndrico de poliuretano, de elevada biocompatibilidade e baixa trombogenicidade. Os mais comuns são os de 20,30 e 40 cc de volume para adultos e 4 e 12 c para uso pediátrico.

Esse balão é preenchido com gás hélio ou dióxido de carbono. O dióxido de carbono apresenta mais solubilidade no sangue, o que reduz substancialmente os riscos de embolia gasosa e suas sequelas, caso haja ruptura do balão. No entanto, alguns fabricantes recomendam o gás hélio, devido  à menor densidade em relação ao dióxido de carbono, permitindo que o balão insufle e desinsufle mais rapidamente.

 

Monitor fisiológico: O console incluiu um osciloscópio e transdutores destinados a monitorizar o eletrocardiograma e a curva de pressão arterial. As curvas obtidas no monitor do console são utilizadas para sincronizar as fases de enchimento e esvaziamento do balão com as fases do ciclo cardíaco do paciente.  Também temos dados presentes como: Frequência cardíaca, pressão sistólica e diastólica assistida e não assistida.

Unidade Controladora:Compreende os dispositivos de controle do tempo , os calibradores e os sistemas de alarme.

Seção pneumática: Compreende um sistema de bombas pneumáticas e válvulas para gerar a pressão positiva e negativa que, respectivamente, insuflam e desinsuflam o balão, comandadas pelos eventos assinalados no traçado do ECG.

Tanque de gás: Reservatório na qual é armazenado o gás hélio.

Baterias: Conjunto de baterias que permite o funcionamento temporário do dispositivo, na ausência de energia elétrica. Permite o transporte do paciente.

Tipos de Balão Intra-Aórtico:

Os balões utilizados para contrapulsação dividem-se em unidirecional e bidirecional. O balão unidirecional geralmente possui duas câmaras que são insufladas quase sem simultaneamente, produzindo contrapulsação mais eficaz com relação ao aumento da pressão de perfusão coronariana. Esse dispositivo aumenta a perfusão coronária, a cerebral, a renal e a mesentérica.

O balão bidirecional apresenta uma única câmara que insufla a partir da porção mediana, deslocando o sangue nos dois sentidos, proximal e distal, durante a diástole ventricular. É utilizado quando se faz necessária a introdução do cateter pela artéria axilar ou aorta ascendente.

Indicações:

  • Falência ventricular esquerda ou choque cardiogênico;
  • Complicações agudas do infarto do miocárdio;
  • Pacientes com angina instável refratária ao tratamento clínico;
  • Arritmias pós-infarto do miocárdio;
  • Suporte a pacientes submetidos a terapêutica trombolítica;
  • Pacientes submetidos a angioplastias de alto risco;
  • Cirurgia cardíaca como ponte para transplante cardíaco.

Contraindicações:

  • Insuficiência aórtica moderada ou grave
  • Presença de aneurisma de aorta torácica ou abdominal
  • Dano cerebral irreversível
  • Cardiopatia crônica terminal
  • Doença oclusiva vascular periférica grave
  • Dissecação aórtica
  • Disfunção severa crônica do ventrículo esquerdo
  • Enxertos anteriores de desvio aortofemural ou aortoilíaco

Como é feita a inserção:

O cateter pode ser inserido de dois modos, ambos com anestesia local.

  1.   Arteriotomia (dissecção)
  2. Via percutânea (punção – técnica de Seldinger)

A artéria selecionada para a inserção do balão deve ser calibrosa o suficiente para acomodar o cateter e manter um fluxo sanguíneo distal para preservar a irrigação do membro.

O cateter, após introduzido através da artéria femoral até a aorta descendente, é conectado ao equipamento responsável pela insuflação e desinsuflação do balão com gás hélio (gás de baixo peso molecular). A confirmação da posição correta do balão é feita pela radiografia de tórax.

Seu funcionamento é controlado por um computador acoplado ao monitor cardíaco (conectado ao paciente), que permite a sincronia entre o balão e as fases de contração e relaxamento do coração. As curvas obtidas no monitor são utilizadas para sincronizar as fases de enchimento e esvaziamento do balão com as fases do ciclo cardíaco do paciente.

O procedimento:

O BIA é introduzido pela artéria femoral pela técnica de punção percutânea, que elimina a dissecção cirúrgica e o uso de enxertos. Após a introdução, o cateter-balão é avançado e posicionado na aorta torácica descendente. A distância é estimada por meio da mensuração da distância do ligamento inguinal na virilha e a borda axilar do paciente. Antes da fixação definitiva, o posicionamento do cateter deverá ser avaliado por meio de radiografia de tórax.

Durante a passagem do cateter:

  • Sangramento, por falta de monitoramento do coagulograma
  • Perfuração ou dissecação da artéria – emergência cirúrgica
  • Trauma ou lesão arterial, por inadequação do tamanho e posição do cateter ou por dificuldade devido a doença oclusiva aterosclerótica
  • Infecção, por não utilização de técnicas assépticas no procedimento
  • Dor, por analgesia insuficiente
  • Isquemia do membro cateterizado

Durante o uso do cateter/manutenção:

  • Obstrução ou enrolamento do cateter
  • Perfuração do balão, constatado pela presença de sangue no interior da tubulação do cateter – nesse caso, suspender o uso e o pinçar o cateter
  • Infecção; por manipulação inadequada
  • Sangramento, por uso de heparina ou plaquetopenia
  • Isquemia do membro (presente em cerca de 15 a 45% dos casos) – retirada imediata
  • Embolia arterial sistêmica
  • Erros de mensuração da pressão arterial, por calibração inadequada, dos transdutores, presença de bolhas, extensões muito longas, obstruções, entre outras
  • Erro no disparo do balão (deflação) por seleção incorreta de derivação no ECG
  • Instabilidade hemodinâmica, por falhas de funcionamento do balão (posição, quantidade de gás) e por presença de arritmias
  • Hematoma retroperitonial
  • Tromboembolismo, por deslocamento de trombos/êmbolos
  • Embolia aérea, por ruptura do balonete
  • Hemólise, por contrapulsação prolongada

Após a retirada do cateter:

  • Sangramento, por manutenção de heparina no período que antecede a retirada
  • Formação de hematoma no local da inserção, por falta de hemostasia adequada através de compressão local
  • Isquemia do membro cateterizado
  • Tromboembolismo pulmonar e cerebral por deslocamento de êmbolos durante a retirada

Desmame:

O desmame pode iniciar em 24 a 72 horas depois da inserção, quando há evidência de estabilidade hemodinâmica que não requer suporte vasopressor excessivo.

Indicações para o desmame:

  • Estabilidade hemodinâmica: pressão arterial sistólica maior que 100mmHg, pressão da artéria pulmonar em cunha menor que 20mmHg e índice cardíaco maior que 2 L/min/m2.
  • Evidência de boa perfusão coronária: pulsos periféricos cheios, débito urinário adequado – superior a 0,5 ml/kg/hora, ausência de edema pulmonar, ausência de isquemia no ECG, melhora do estado mental
  • Requisitos mínimos para o suporte vasopressor
  • Insuficiência arterial grave: perda dos pulsos na região distal do membro, palidez, dor.
  • Deterioração irreversível da condição

Cuidados de enfermagem na assistência circulatória mecânica (BIA):

  • Avaliação clínica e hemodinâmica do paciente antes do procedimento – verificar resultados de exames laboratoriais;
  • Preparo do material;
  • Checagem do funcionamento do equipamento e monitorização adequada no console;
  • Avaliação cuidadosa da perfusão periférica: pulso, coloração, aquecimento, enchimento capilar dos membros inferiores;
  • Manutenção de material de emergência próximo, com fácil acesso;
  • Avaliação da perfusão, pulso e temperatura do membro cateterizado durante a passagem do balão e após o procedimento, de 2 em 2 horas e do diâmetro da panturrilha a cada hora – detecção precoce de isquemias;
  • Manutenção do membro cateterizado em extensão – evitar flexão do quadril;
  • Monitorização hemodinâmica a cada 15 minutos na primeira hora após instalação do BIA;
  • Manutenção do decúbito elevado (30º) – evitar sangramento no local da punção e quebra ou migração do cateter;
  • Avaliação do sítio de inserção do cateter a cada 2 horas e resultados de Hb/Ht para detecção de hematoma ou sangramento;
  • Manutenção da integridade cutânea (prevenção de lesões por pressão) – cuidados de higiene, colchões de espuma perfilados e mudança de decúbito com movimentação em bloco;
  • Manutenção de traçado de ECG de qualidade;
  • Manutenção da anticoagulação conforme prescrição – prevenção de trombos e embolia;
  • Avaliação abdominal (ausculta) de 4 em 4 horas – detecção de isquemia mesentérica;
  • Avaliação neurológica – detecção de embolia cerebral;
  • Contagem de plaquetas – trombocitopenia;
  • Manutenção de técnica asséptica na manipulação do cateter;
  • Avaliação de sinais de infecção: temperatura, sinais flogísticos ou secreção no local de inserção do cateter;
  • Avaliação de dor torácica – injúria na parede da aorta;
  • Monitorização do equipamento e detecção precoce de falhas do sistema como vazamento, achatamento de curva;
  • Avaliação do funcionamento contínuo do balão – evitar a formação de trombos;
  • Manutenção de tempos adequados de insuflação e desinsuflação – otimização do débito cardíaco;
  • Avaliação do BIA com o ritmo cardíaco: detecção de fibrilação, batimentos ectópicos, taquicardia, entre outros;
  • Avaliar parâmetros de desmame;
  • Monitorar a suspensão da anticoagulação 4 a 6 horas antes da retirada do BIA.

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